quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

História dos Teclados Sintetizadores


O teclado é um dos instrumentos mais utilizados atualmente, por causa da sua grande flexibilidade e diversas finalidades no mundo da música. Com um simples teclado pode-se dispensar o acompanhamento básico de outros componentes de um grupo musical (baterista, guitarrista, contrabaixista, etc.)

O teclado é dividido em 4 tipos: Sintetizadores, Teclados com acompanhamento automático, Workstations, Pianos digitais e Controladores.

Os Sintetizadores são os mais usados atualmente. É um instrumento que possui vários timbres (sons) que na qual podem ser editados (alteração de freqüências, modulação, efeitos, etc.), com isso criando novos timbres (sons).

Os Teclados com acompanhamento automático, São teclados que possuem vários estilos musicais (pop, jazz, rock, balada, samba, bossa nova, dance, e muitos outros), onde pode-se criar e modificar outros estilos, acompanhados por parte rítmica (bateria), baixo, strings, cordas (violão, guitarra), metais (trompete, trombone, etc.), bem como ainda pode-se sintetizar estes timbres (sons).

Os Workstations, são teclados mais complexos, que envolve síntese de sons e sequenciadores para composição, arranjos de partes musicais ou peças musicais completas, e ainda possuem a capacidade de síntese de timbres (sons).

Os Pianos digitais, São teclados com várias teclas (76,88), que possuem vários timbres de piano, gran piano, piano elétrico, cravo, etc..

Os Controladores são teclados com várias teclas (76,88), na maioria das vezes não possuem timbres, que tem a finalidade de controlar outros instrumentos digitais através de MIDI (comunicação entre instrumentos digitais), controla uma bateria eletrônica, computadores, módulos de som, etc..

Como já dissemos, o tipo de teclado mais usado entre os músicos no momento é o sintetizador. Vamos se basear nele para que você fique por dentro sobre sua história.  Um bom sintetizador pode imitar sons da natureza tais como o canto de pássaros, vento, trovões, etc; imitar todos os instrumentos musicais acústicos e elétricos como os de uma orquestra sinfônica (ou mesma de uma guitarra elétrica) e pode simular sons de helicópteros , carros, ruídos, virtualmente quase qualquer som.

Obviamente o sintetizador definitivamente proporcionou à música um enfoque criativo muito grande pois muitos músicos e técnicos desenvolveram sons novos até então, além da imaginação.  

Pode-se dizer que 3 pessoas foram responsáveis pela popularidade deste instrumento : 





Robert A. Moog - pode-se dizer que foi o inventor do sintetizador . Fundou a Moog Music Inc. no final dos anos 60 , fabricante dos sintetizadores Moog. 








Wendy Carlos - foi responsável pela primeira obra musical - totalmente executada em um sintetizador Moog - a obter sucesso comercial com o Lp ´´Switched on Bach (1968). Trazia obras de Johann Sebastian Bach e foi aclamado pela crítica e público, inclusive pelo controvertido pianista Glenn Gould. Wendy Carlos procurou não imitar qualquer instrumento de orquestra. Reformulou todos os timbres. Posteriormente foi responsável pela trilha sonora dos filmes "A Laranja Mecânica" e "O Iluminado", ambos de Stanley Kubrick. 






Keith Emerson - Integrante do grupo de rock progressivo inglês "Emerson , Lake & Palmer". Foi o primeiro a usar o "Moog" no rock , inclusive ao vivo , nos palcos. O próprio inventor, Robert Moog, o desaconselhou devido a instabilidade na afinação do instrumento e a dificuldade de se mudar rapidamente os timbres. 







Os Moog mais sofisticados eram os "modulares". Os módulos de criação de sons podiam ser adquiridos conforme a necessidade, contudo o preço era muito alto, acima dos U$ 10.000,00 , e muito complicado de se operar. Podiam chegar ao tamanho de uma parede e os módulos eram interligados com cabos , como os de uma telefonista.



A Moog Music resolveu lançar um sintetizador mais barato e fácil de se operar , certamente sacrificando sua flexibilidade. Surgia o "Minimoog" que foi provavelmente o sintetizador mais importante pela sua popularidade.

Na realidade o sintetizador foi criado em 1955 pela RCA (Radio Corporation of America). Apesar de ter ganho o Prêmio Nobel nesse ano, este sintetizador era um instrumento que somente podia ser operado por técnicos. Engenheiros especializados precisavam de horas para criar algum som útil. Conhecido como RCA MkII, tinha mais de 2 metros de altura e 5 metros de comprimento. Custava U$ 175.000,00.

Os poucos músicos capazes de operá-lo eram obrigados a revezar-se em turnos e fazer uma reserva no estúdio da Universidade de Columbia/Princeton  em Nova York. 
Robert Moog, por ser músico (teve aulas de piano por 12 anos), além de engenheiro e físico, teve um approach diferente, desenvolvendo um instrumento mais acessível e orientado para músicos, e não para técnicos. Foi com a sua invenção que o sintetizador começou a se popularizar. Por esse motivo eele é considerado o "Pai do Sintetizador".

Atualmente Bob Moog não trabalha mais na empresa que tem o seu nome (Moog Music). Fundou a  "Big Em 1962, Robert Moog apresentou o seu sintetizador. Seu primeiro comprador foi Alwin Nikolais, um famoso coreógrafo. Seu segundo foi Eric Siday, um compositor de comerciais (jingles).  Havia dinheiro o bastante para manter-se no negócio, mas não existiam muitos compradores, de fato só se ouvia sons de sintetizador em jingles. 

Moog procurou encontrar-se com o maior numero de músicos que podia para divulgar o sintetizador.  Dentre eles conheceu a Wendy Carlos, que com o álbum "Switched-On Bach" divulgou o instrumento para o mundo.  Carlos chegou a colaborar com Robert Moog no aperfeiçoamento do instrumento. Briar", onde produz dispositivos para seus antigos instrumentos e theremins (um instrumento musical eletrônico que é executado movendo-se as mãos perto de uma antena - muito usado em filmes de ficção científica e horror). Talvez por ser um cientista, e não um  negociador, vendeu os direitos do seu nome e criação, ironicamente perdendo o direito de usar seu próprio nome.

No final dos anos 90 voltou à mídia, em comemoração dos 30 anos do sintetizador Moog, juntamente com o músico Keith Emerson. O inglês Keith Emerson (nascido em 02/nov/1944) pode ser considerado um dos mais importantes tecladistas do rock, se não for o mais importante. Pianista, organista, show man, Emerson fez pelos teclados o que Jimmy Hendrix fez pela guitarra: exibições virtuosísticas, destruição de instrumentos, utilizando inclusive elementos pirotécnicos. A efervescência das suas apresentações perdia somente para a sua musicalidade. Emerson conseguiu levar a música clássica ao rock, sendo também um dos pais do rock progressivo. Começou com o grupo "the Nice" e posteriormente consagrou-se com o trio "Emerson, Lake & Palmer" (ELP), alem de compor diversas trilhas sonoras para filmes. Foi o primeiro a usar um sintetizador num palco , ao vivo.

O sintetizador foi descoberto por Emerson em 1968, através do álbum "Switched-On Bach" de Wendy Carlos. Ficou fascinado pelo aspecto do instrumento que constava na capa, bem como a sua sonoridade. Na época descobriu que em toda a Inglaterra havia apenas um destes instrumentos, o qual conseguiu emprestado para um dos seus shows (ainda com o "the Nice"). 

O público ficou intrigado com o som estranho e não conseguia compreender o que estava fazendo aquele som. Decidiu comprar um Moog modular,  o qual pagou 13.000 libras (cerca de US$ 21.000 dólares). Teve muito trabalho com o sintetizador no início: recebeu-o desmontado em diversas caixas, não havia qualquer manual (montagem ou operação) e sempre desafinava nas turnês
Emerson entrou em contato com Robert Moog e viajou até  o seu centro de desenvolvimento em Nova York.



A principio o Dr. Moog por acreditar que sua invenção deveria ser usada somente em estúdios, desaconselhou Emerson a usar o instrumento ao vivo, num palco. Emerson conseguiu convencer Robert Moog do contrário, que acabou aperfeiçoando o sintetizador e posteriormente desenvolveu novos instrumentos ( como o Minimoog), para apresentações ao vivo.  Certamente Emerson influenciou a forma em que evoluiu o sintetizador. Bob Moog e Emerson se reencontraram em 1999, em Los Angeles, comemorando os 30 anos da música eletrônica. 

Com o aparecimento do álbum "Switched-on Bach" em 1968, Wendy Carlos tornou-se instantaneamente uma celebridade e  o álbum tornou-se um dos maiores best-sellers clássicos de todos os tempos. Desde o início de sua  juventude, Wendy Carlos (nascida em Pawtucket, Rhode Island, E.U.A. - 1939) demonstrou um forte interesse em música e tecnologia científica. Precocemente, aos 10 anos de idade ela compôs um Trio para Clarinete, Acordeão e Piano, e quatro anos mais tarde construiu um pequeno computador. Quando tinha 17 anos de idade montou um estúdio de música eletrônica e produziu sua primeira composição a qual utilizava sons criados e manipulados em gravadores de rolo. Estudou música e física.

Em 1965 Wendy Carlos, na época engenheira de som do estúdio Gotham Recording (Nova York), comprou uma das máquinas de Robert Moog e em 1966 ela construiu seu próprio estúdio de gravação (8 pistas) em casa. Ainda em 1966 ela iniciou a gravação do hoje lendário "Switched-on Bach" onde Carlos executava no sintetizador Moog obras de J.S.Bach ( houve um cuidado musicológico de sua parte com relação ao estilo barroco), gravando cada timbre pista por pista, pois o instrumento era monofônico (emitia somente uma nota por vez). Um trabalho insano que foi consagrado como o primeiro álbum clássico a receber o "disco de platina".

Após aperfeiçoar sua técnica no álbum "The Well-Tempered Synthesizer", Wendy apresentou o uso do vocoder (processador de voz - fabricado por Moog)  para vocalizações sintetizadas para a trilha sonora do filme "A Laranja Mecânica" do diretor Stanley Kubrick, desta vez usando basicamente obras de Beethoven e composições próprias. Sua obra seguinte, "Sonic Seasonings", apresentou o que conhecemos hoje como o estilo New-Age , utilizando o sintetizador Moog para simular sons da natureza, tais como chuvas, ventos, pássaros, lobos uivando, etc. Compôs trilhas para os filmes "O Iluminado" ( também de Kubrick) e "Tron" (dos estúdios Disney)

Após o sucesso do sintetizador Moog, começaram a surgir diversos outros  fabricantes de sintetizadores : Arp (provavelmente o concorrente principal da Moog Music no inicio), E-mu, Korg, Oberheim, Roland, dentre outros.

A tendência natural foi produzir sintetizadores cada vez mais voltados para performances ao vivo: mais estáveis (que não desafinassem muito com o passar do tempo), menores e com preço mais acessível.

Alguns anos depois os sintetizadores passaram a ser polifônicos, ou seja, podiam executar várias notas simultaneamente, possibilitando tocar acordes. Na maior parte da vezes, técnicamente falando, estes novos instrumentos nada mais eram do que vários sintetizadores acoplados em um único instrumento. Por exemplo: um sintetizador com a polifonia de 4 notas, nada mais era do que um instrumento composto por quatro sintetizadores.

Ainda havia um grande problema. Para alterar o som do instrumento por exemplo, mudar o som de uma flauta, para o som de um violino, o músico era obrigado a alterar diversos parâmetros,  nos controles/botões do instrumento. Isso requeria conhecimento técnico e tempo. Alguns  músicos, utilizavam diversos sintetizadores e quando necessitavam mudar de som, tinham que mudar de instrumento. A solução veio com o advento da memória. Por intermédio de botões memorizavam-se os sons criados (sistema que é usado até hoje), algo muito semelhante ao que se já encontrava nos órgãos.

Atualmente existem inúmeras marcas de teclados (sintetizadores), que vão dos mais simples aos mais sofisticados com grande possibilidade de síntese de sons e arranjos musicais. As marcas mais conhecidas são Cassio, Yamaha, Kawai, Roland, Korg , Alesis, Techinics, Solton, Ensomiq, Peavy, General Music (GEM), Minami, Kurzwell, CCE e E-mu .


A história do órgão Hammond e das caixas Leslie

Fonte: whiplash.net - Por: Rick Prevallet e Allan Gordon



Embora o órgão Hammond tenha sido criado no início dos anos 30, seu conceito básico foi idealizado muitos anos antes. Laurens Hammond desenvolveu seu instrumento musical baseado no design do “Cahill Telharmonium”. O Telharmonium produzia seu som através do movimento de rodas de tom metálicas (“metal tone wheels”) em frente a bobinas magnéticas. Assim que a superfície irregular da roda passava perto do magneto, era produzida uma corrente elétrica variável. Uma das desvantagens do Telharmonium era o tamanho do gerador de tons: alguns vagões de carga (!) eram necessários para movê-lo.

       
Laurens havia desenvolvido um motor síncrono entre os anos 20 e 30, e o usou com sucesso numa linha de relógios elétricos. Um motor síncrono mantém a sua velocidade de rotação constante usando como referência a freqüência de sua fonte de alimentação AC. Se a fonte consegue manter uma freqüência constante de 50 (ou 60) Hz, então o motor irá sempre girar na velocidade correta. Esse processo permitia ao “relógio Hammond” trabalhar de forma bastante precisa.

Durante a Grande Depressão dos anos 30, o mercado de relógios sofreu uma queda e Laurens teve a necessidade de buscar outra aplicação para seu motor. Inicialmente desenvolveu uma mesa de bridge com distribuição automática de cartas, mas as vendas foram fracas.

Em 24 de abril de 1934, Laurens Hammond recebeu o número de patente 1.956.350 por um “Instrumento Musical Eletrônico”. Descrevia o princípio básico de design para criar um som resultado da combinação de um número de ondas senoidais de diferentes picos/amplitudes. Em conjunto com seu motor síncrono havia uma série de engrenagens (ele era um inventor de relógios originalmente), molas, eixos-motores e rodas de tom possuindo pontos de alta em 2, 4, 8, 16, 32, 64 e 128. Quando as rodas de tom eram giradas na velocidade correta, a onda criada estava dentro de milhares de um ciclo do valor teórico de uma escala suave equivalente. Interessante observar que os tons em “lá” eram todos corretos, enquanto todas as demais notas variavam um pouco de seus “valores fundamentais”. 91 rodas de tom cobriam um alcance de 32 a 5.920Hz.

Os 91 tons eram ligados às teclas através de barras de direcionamento (“bus bars”) e chaveadas por meio de uma bateria de acionadores (“keyswitches”). Cada tecla pressiona um dispositivo (“pusher”) que controla 9 acionadores, um para cada barra de acoplamento. É através da constante conexão e desconexão desses acionadores que o órgão Hammond apresenta uma de suas características: o “estalido” das teclas.





O motor síncrono permitia a Laurens se vangloriar de que seu órgão nunca precisaria ser afinado, embora se a freqüência da rede elétrica tivesse uma fraca estabilidade, certamente o órgão ficaria fora do tom dos demais instrumentos, apesar de continuar em tom consigo mesmo.
Houve inúmeros aprimoramentos até o mesmo começar a ser produzido. Um motor de ignição foi adicionado para substituir a manivela utilizada para trazer o gerador de tom à velocidade desejada; os teclados foram aumentados e padronizados em 61 notas, e os pedais de graves foram fixados em 25 notas.

Diz a lenda que o Sr. Hammond viajou pelo país observando órgãos de igreja e notou que na maioria dos casos os pedais mais desgastados eram os mais graves. À época, painéis radiais côncavos com pedais de 32 notas eram o padrão. Laurens imaginou que os custos para a produção em larga escala de um sistema seguindo esse padrão seriam muito altos, e então simplificou o mesmo para uma unidade radial plana de 25 notas. Em muito pouco tempo, seus pedais fora do padrão acabaram virando o novo padrão, pelo simples fato de que um grande volume de órgãos foi fabricado e enviado seguindo esse novo modelo.
        
O primeiro modelo fabricado, Modelo A, foi introduzido em 1935, e o de número de série 1 hoje reside no Smithsonian Museum. Todos os órgãos Hammond produzidos desde então até o meio dos anos 60 usaram exatamente esse mesmo mecanismo, com pequenas modificações. O fato de que milhares desses órgãos estão ainda em uso até hoje é um testamento da alta qualidade de seu design e perícia.

Quais as diferenças entre um órgão B3 e um C3?

       
Há 3 detalhes que diferenciam um B3 de um C3: o banco, o gabinete do órgão em si, e os pedais de grave do B3, que possuem um descanso para calcanhar fixado. Os componentes eletro-mecânicos são exatamente os mesmos. Normalmente o que ocorria era o seguinte: uma série de órgãos B3 era produzida, seguida por uma série de órgãos C3, e assim por diante. As partes internas produzidas poderiam acabar tanto num B3 quanto num C3.

Os órgãos RT3 (modelo de órgão Hammond para concertos) foram também incluídos nesse “mix” de produção, mais uma vez utilizando os mesmos componentes básicos do B3, porém com alguns itens adicionais destinados a servir a um organista “mais sério”, de música dita “erudita”. Em 1959, Laurens introduziu a série A100, que incluía um alto-falante e amplificador no console. Mais uma vez, apesar de pequenas mudanças em componentes de pré-amplificação e acionador de “vibrato”, as partes internas eram similares àquelas encontradas nos órgãos B3.

Laurens nunca pretendeu (ou pelo menos nunca previu) que seus órgãos viessem a ser utilizados por músicos profissionais. Sua invenção era destinada a igrejas, embora obviamente fosse vendida para qualquer pessoa que pagasse seu preço. Não se pode afirmar que a Hammond tenha em algum momento patrocinado algum artista (apoio em turnês), mas se o fez foi no final dos anos 70 quando as coisas já estavam se desmantelando.

Mais tarde, Hammond acabou chamando os Modelos “B” de “modelos caseiros” porque se podia enxergar as pernas do músico trabalhando os pedais. Os modelos “C” e “RT” possuíam um painel “de recato” na traseira, supostamente instalado de forma que organistas femininas não precisassem se preocupar com o fato de estar vestindo saia enquanto tocavam. Uma curiosidade não confirmada em relação aos códigos dos modelos, seria o fato das letras “B” e “C” fazerem referência às palavras “blues” e “church”, respectivamente, já que além dos motivos antes mencionados, o modelo “B” era o mais utilizado por organistas que tocavam em grupos de blues e jazz e o “C”, o mais comum em igrejas.

Em termos de tamanho e peso, o B3 e o C3 são comparáveis. O C3 pesa um pouco mais em virtude justamente do acréscimo de madeira necessário à colocação dos painéis laterais e traseiro. Normalmente o peso real de um B3 gira em torno de 135kg, enquanto que um C3 pesa pouco menos de 150kg, sem incluir banco e pedais.

A caixa rotativa Leslie

Por volta do fim dos anos 30, um jovem comprou um órgão Hammond e um gabinete com alto-falante. Após testar o conjunto por pouco tempo, chegou à conclusão de que não gostava do som produzido e decidiu melhorá-lo. Através do método de tentativa e erro, trabalhou com várias combinações de alto-falantes, e eventualmente simplificou a solução utilizando um woofer único e um “drive” de compressão, soando através de dispositivos rotatórios.
    
O jovem em questão era Don Leslie, e sua invenção mais tarde ficou conhecida como a “caixa rotativa Leslie”. Basicamente desenhados para uso com órgãos Hammond, esses alto-falantes iriam se tornar (e continuam a ser) um “must” para qualquer músico seriamente disposto a usar um instrumento musical desses.
   
O resultado do conjunto “órgão Hammond B3 mais caixa Leslie modelo 122” é o clássico som dito “sagrado”, com o qual estamos todos familiarizados. Pode-se ouvi-lo na introdução de “Black Magic Woman” (Santana), ou proeminentemente apresentado em “Green Eyed Lady” de Sugar Loaf, ou durante toda a execução de músicas como “Hold Your Head Up” (Argent) e “Circle Of Hands” (Uriah Heep). O “som de sirene” de um Hammond tocado através de uma Leslie é inconfundível.




Embora a caixa Leslie venha sendo produzida há mais de 60 anos (é atualmente fabricada pela Hammond-Suzuki em Chicago, Illinois, EUA), seus princípios operacionais básicos não foram muito alterados com o passar do tempo.

O que fez a caixa Leslie especial foi o seu método de direcionar o som através de dispositivos rotatórios. O woofer dispara seu som por uma membrana de madeira, enquanto que o “driver” de compressão direciona seu som por uma corneta plástica. Tais dispositivos giram devagar (“chorale”) ou depressa (“tremolo”). Os princípios de som em questão envolvem modulação em amplitude (AM) e em freqüência (FM, conhecida como “Efeito Doppler”). Tanto o efeito AM quanto o FM ocorrem simultaneamente, assim que os dispositivos rotatórios se aproximam e se afastam do ouvinte.

Quando a fonte de som gira na direção do ouvinte, sua velocidade aumenta, causando um acréscimo na amplitude; quando gira na direção contrária, sua velocidade diminui, e por conseguinte há um decréscimo na amplitude. O efeito FM é reconhecível como sendo um som de um trem se aproximando com seu apito soando. O efeito AM gera a sensação do som ficando mais alto e mais baixo, em função da fonte se aproximar ou se distanciar do ouvinte.

Uma típica caixa Leslie incorpora um amplificador tubular de potência de 40 watts, um crossover passivo de 800Hz, um woofer de 15” e um tweeter para altas frequências. Não há nada realmente “mágico” acerca dos seus componentes, embora modelos mais antigos possuíssem woofers Jensen e amplificadores tubulares Tung-Sol, itens que acabaram por adquirir o status de serem “para audiófilos”.


Hammond modelo "A" com duas Leslie - Raridade
Apesar de várias modificações terem sido testadas (mais potência, alto-falantes de alto desempenho, etc.), elas acabaram por alterar as características do som a ponto da caixa Leslie perder todo o seu charme. A maioria dos engenheiros de som posicionam 2 microfones perto da corneta e um perto do rotor do grave, de forma a proporcionar mais volume, colocando os microfones da corneta bem à direita e à esquerda. 


       
   

Muito poucas invenções sobrevivem tanto (e bem) quanto às caixas rotativas de Don Leslie. Se imagine usando uma caixa Leslie produzida agora, daqui a 60 anos. Existem muitas caixas “vintage” da série Leslie 31H, dos anos 40, ainda em operação, e sobressalentes podem ainda ser encontrados. Isso é um testamento e tanto, de um jovem que apenas queria incrementar o som de seu órgão Hammond.

Os simuladores digitais de Hammond

Hoje em dia, o órgão Hammond continua sendo um sonho de consumo por parte de muitos músicos de jazz, blues, rock e tantos outros gêneros musicais que utilizam este instrumento em sua linguagem. Contudo, encontrar uma unidade em perfeitas condições é quase uma façanha digna de arqueólogo, o que o torna, além de raro, caríssimo.

Em vista disso, os tradicionais fabricantes de teclados e sintetizadores como Roland, Korg e a própria Hammond-Suzuki, vislumbraram uma lacuna no mercado e decidiram desenvolver o que chamam de “simuladores de Hammond”, que nada mais são do que reproduções do instrumento original através de um sofisticado algoritmo de modelagem física, o que resulta numa simulação quase perfeita.

Nesses instrumentos, toda a interface de controle reproduz o painel do Hammond original, com suas nove drawbars, controles de vibrato, “key click” e “rotary speaker”. Mantendo o ar “retro”, seus respectivos gabinetes, feitos em madeira ou laminados, fazem referência estética ao próprio, pois afinal de contas é inegável que o visual conta muito no charme desse instrumento.

Obviamente os puristas sempre irão preferir o original, mas diante da impossibilidade de ter “the real thing” ou por uma questão de portabilidade, esses simuladores desempenham muito bem o seu papel, já que pesam entre 15 e 20kg, em contrapartida aos 135kg de um B3. Além do peso reduzido, esses instrumentos já vêm com um simulador interno de rotary speaker (ou caixa Leslie), o que dispensa mais um componente grande e pesado, essencial para o som clássico do órgão Hammond.

      
No Brasil, a empresa paulistana Tokai, com muito mérito e pioneirismo, desenvolveu um projeto 100% nacional de um simulador de Hammond. Mesmo diante de toda a falta de tradição da indústria nacional em relação a instrumentos musicais eletrônicos, a Tokai teve êxito em sua empreitada e hoje já conta com dois modelos no mercado, o “TX-5 DS Plus” e o “TX-5 Classic”. Ambos são idênticos eletronicamente falando, diferindo apenas pelo fato do segundo possuir gabinete laminado em madeira e teclas “waterfall”, enquanto que o primeiro possui teclas com perfil de sintetizador e gabinete em MDF (“mean density fiberboard”, um aglomerado de pó de madeira).

Porém, de nada adiantaria toda essa iniciativa se o instrumento não fosse realmente bom e, como prova disso, é endossado por figurões da música brasileira como Mú Carvalho (Cor do Som), Arnaldo Baptista (ex-Mutantes), Allex Bessa (Rita Lee, ex-O Terço), Eloy Fritsch (Apocalypse) e vários outros. Além disso, custa cerca de 1/3 do valor dos similares importados, já que enquanto um VK-8 da Roland beira os R$ 7mil, o TX-5 Classic sai na faixa dos R$ 3mil, tornando, definitivamente, o som do órgão Hammond acessível para qualquer um.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Tão sublime sacramento ao piano

Pessoal,

Abaixo um vídeo já antigo onde interpreto a música "Tão sublime sacramento". Existem algumas falhas na harmonia, por isso breve postarei um novo vídeo com as devidas correções.


Vídeo "Prova de amor maior não há" - testando pianos

Pessoal,

Abaixo um vídeo onde testo alguns pianos VST tocando a música "Prova de amor maior não há".


Vídeo Jazz Funk Piano

Pessoal,

Vejam abaixo um vídeo que fiz tocando um tema bastante interessante:



A história do Piano

     
   Por Carlos Gustavo Kersten
Em 1709, Bartolomeo Cristofori, italiano da cidade de Pádua, fabricou o primeiro Pianoforte (piano = doce, leve e forte = alto, sonoro). A combinação das duas palavras enfatiza o potencial do piano em produzir fortes ou leves tons, dependendo somente de como suas teclas são tocadas. Seu mecanismo, composto por martelos, substituiu o sistema de cordas puxadas utilizado pelos cravos.
A ascensão do piano inicia-se logo no início do século XVIII, quando as apresentações caseiras informais deram lugar às realizadas sobre um palco. A criação, em 1716, do Collegium Musicum, em Frankfurt, tendo Georg Philipp Telemann como diretor do programa de concertos, contribuiu fortemente para a popularidade destes eventos.

up-striking
Em 1717, na Alemanha, um professor de clavicórdio, Gottlieb Schöter, inventou dois mecanismos: "up-striking" e "down-striking, ambos utilizando martelos. A mecânica up-striking" mostrou-se mais promissora mas por falta de recursos, Schöter suspendeu  suas pesquisas. Este fato, entretanto, deu a ele, durante  muito tempo, o crédito da invenção do piano.

down-striking








   




A primeira composição musical escrita especialmente para piano foi publicada em 1732: 12 sonatas para pianoforte de Giustini.






Já em 1732, construiu-se o primeiro grand piano vertical. Quatro anos após, em 1739, novamente Schröter surge no cenário instrumental desenvolvendo o mecanismo tangente que utilizava lingüeta articulada.

Gottfried Silbermann, um grande fabricante de órgãos, clavicórdios e pantaleons, produziu dois instrumentos baseando-se na concepção do “cravo com martelos” e, em 1736, decidiu mostrá-los a Johann S. Bach, que, mesmo ficando impressionado, fez duras críticas aos instrumentos.

     
   


Por 10 anos Silbermann refinou seus pianos até que, em 1746, ele apresentou um deles ao rei Frederico II da Prússia que, deliciado, adquiriu 15 instrumentos. Depois disto, Silbermann não conseguiu levar adiante seus projetos vindo a falecer em 1753.





Silbermann teve acesso ao trabalho de Cristofori e Schrõter, sendo assim, sua fábrica produziu duas linhas distintas de piano. Seriam os estilos "Inglês" e "Alemão" de piano.
Mecanismo Inglês

Mecanismo Alemão







Em 1742, um dos discípulos de Silbermann, Christian Ernest Friedrich, continuou seu trabalho e construiu um pequeno "square piano",baseado no design do cravo, chamado de "Bienfort". Entretanto, este tipo de piano só foi produzido comercialmente 20 anos depois, na Inglaterra. Os pianos de cauda descendiam dos cravos e tinham suas cordas alinhadas com o teclado. O "square piano", com suas cordas dispostas em ângulo reto do teclado era mais compacto e econômico. Confeccionado e vendido em quantidade, ele preparou o caminho para o domínio posterior do piano. Por ser de pequeno tamanho tomou-se um instrumento de uso pessoal ou doméstico. Mas, através dos seus aproximados 100 anos de vida, teve suas cordas aumentadas e tensionadas visando a potencialização de seu volume.












   
Então, o "squarepiano" cresceu. Sua estrutura de madeira já não era forte o suficiente para suportar seu conteúdo. O desenvolvimento de uma armação de ferro foi a solução que o instrumento necessitava, mas, ironicamente, isto aconteceu tarde demais. O "square piano" estava em decadência.




Em 1745, Christian E. Friedrich novamente inovou construindo o primeiro piano piramidal, (foto) com cordas obliquas.
Em 1747, J.S.Bach teve um novo contato com um piano desenvolvido por Silbermann quando de sua apresentação diante do rei Frederico, O Grande. Desta vez, o instrumento o deixou melhor impressionado.
O primeiro trabalho sobre a técnica de piano foi publicado em 1753 por C.P.E.Bach, em Berlin. Seu título era "An Essay On The True Art Of Playing Keyboard Instruments".

Em 1767, o piano foi usado, pela primeira vez, como acompanhamento em uma apresentação no Covent Garden Theatre, em Londres. E, ainda em Londres, aconteceu a primeira apresentação solo realizada por J.S.Bach, no Thatched Cottage, em um piano confeccionado por Johannes Zumpe.

Tanto Cristofori quanto Silbermann produziram instrumentos de alto grau técnico, mas nenhum deles atingiu um sucesso comercial real. Em 1770, Johann Andreas Stein, aprimorando o mecanismo do piano, aumentou consideravelmente o apelo do instrumento. Este aprimoramento foi o resultado da introdução da ação do escapamento que permitiu uma repetição mais rápida das notas. Esta alteração incorporou-se, posteriormente, aos pianos vienenses que possuíam um visual e uma acústica mais delicada do que aqueles fabricados na Inglaterra e na França. Possuíam uma máquina mais simples e mais leve, na qual um martelo era montado sobre a extremidade da tecla gerando, assim, um som mais suave.


Em 1773, dois acontecimentos marcantes: a realização do primeiro concerto na América, na cidade de Nova Iorque e a publicação de Sonatas Op.2, de Muzio Clementi, compositor italiano, pioneiro na aplicação dos recursos musicais do piano.
Dois anos depois, em 1775, a América já tinha seu próprio fabricante de pianos: John Behrent, da Filadélfia, um imigrante alemão.

Em 1781, John Broadwood proporcionou o aumento de volume e a melhoria do timbre reposicionando o bloco de pinos ao longo da estrutura traseira do piano. Depois, em 1783, ele promoveu uma nova mudança em um "square piano", com um eficiente sistema de abafadores instalados em um plano inferior e a colocação de um pedal de "sustain" no lugar da alavanca que era acionada pelo joelho do pianista.

John Geib, baseando-se em trabalho realizado por Zumpe, patenteou, em 1786, seu duplo mecanismo introduzindo uma alavanca intermediária para facilitar o escapamento.
Em torno de 1770 a maioria dos "square pianos" possuía uma extensão de cinco oitavas. Contudo, em 1794, os trabalhos musicais da época exigiram mais notas e, por isso, o teclado foi expandido para 5 ½ oitavas. John Broadwood foi o responsável por mais esta mudança.

   

O final do século XVIII ainda reservou novidades para os apreciadores do piano. Em 1795 William Stodart projetou, em Londres, o primeiro piano armário. Em 1797, foi publicada, também em Londres, a revista Pianoforte, a primeira exclusivamente dedicada ao piano. Em 1799, François Adrien Boieldieu, do Conservatório de Paris, é indicado como o primeiro \ professor de piano do mundo. E, finalmente, em 1800, John Isaac Hawkins, da Filadélfia, projetou o primeiro piano portátil (foto11)completo com alças e um teclado dobrável.




Em 1804 a sonata nº 21 em C, Op. 53 ("Waldstein"), de Beethoven, sugeriu os novos caminhos da composição para os pianos do futuro. A textura, a interação entre os acordes nos graves e melodia nos agudos foram as principais características da peça musical.

A opinião dos grandes músicos da época contribuiu muito para a evolução do piano. Os projetistas/construtores estavam sempre atentos às novas necessidades surgidas e acrescentavam alterações no instrumento num ritmo quase frenético. Um típico exemplo disto foi Sebastien Erard que, para ter seus pianos bem aceitos entre os principais instrumentistas da época (inicio do século XIX), patenteou, em 1808, um mecanismo do escapamento que aumentou grandemente o desempenho do instrumento. Inventou, também em 1808, o agraffe que ajudou a fixar as cordas do piano nos seus apoios, estabilizando a afinação e formando o final da parte sonora da corda.

Em 1810, projetou o mecanismo do pedal moderno. E, em 1822, desenvolveu o duplo mecanismo do escapamento (ou repetição) que, apesar de ter sido por ele inventado, foi patenteado por seu sobrinho Pierre Erard, tomando-se a base para todos os instrumentos modernos.

O piano vertical (armário) foi desenvolvido para ser um dos menores, mais econômicos e mais portáteis instrumentos. Ao mesmo tempo, fabricantes e inventores queriam produzir um som que estivesse o mais próximo possível, em força e qualidade, daquele emitido por um piano de cauda. Entretanto, estes objetivos eram incompatíveis entre si.

O mérito pela invenção deste piano é dividido entre Matthias Müller (Viena) e John Isaac Hawkings (Philadelphia). MüIler utilizou o mesmo esquema mecânico de um piano de cauda da época. Entretanto, ele optou por ter o ponto de atrito dos martelos sobre as cordas mais próximo do que o usual e isto resultou em um som que possuía poucas notas altas sendo, assim, pouco parecido com o piano tradicional. Hawkins era um engenheiro e seu instrumento era excepcionalmente engenhoso tendo uma estrutura de ferro e um teclado dobrável. Infelizmente, tinha um péssimo timbre e desafinava com facilidade. Talvez por estes motivos, nenhum dos instrumentos atingiu o reconhecimento merecido.

Em 1802, Thomas Loud (Londres) sugeriu que as cordas do piano armário fossem estendidas diagonalmente para permitir que o instrumento acomodasse cordas mais longas (produzindo melhor som) ou mesmo para que se alojasse em uma caixa menor.
Entretanto, foi em 1814 que Robert Wornum, homem que transformou o piano armário no instrumento conhecido atualmente, projetou cordas que desciam abaixo do teclado até o chão, (foto) melhorando significativamente o som do instrumento, permitindo dimensões externas mais compactas e encorajando, assim, a classe média a comprar pianos para uso doméstico.
O mecanismo de Wornum foi, posteriormente, desenvolvido em Paris por Ignace Pleyel e Jean-Henry Pape, o que fez com que ficasse conhecido, erroneamente, como o mecanismo "francês".
 
Com o crescimento da demanda por instrumentos capazes de produzir intenso volume, as cordas tinham que ser mais longas, mais grossas e mais tensionadas. Os pianos tomaram-se maiores e mais fortes para evitar deformações provocadas pelo tensionamento interno. Este problema foi resolvido com a introdução de um pino de ferro colocado acima da tábua harmônica. Existem dúvidas quanto à autoria desta mudança (Broadwood ou Erard). Entretanto, atribui-se à Broadwood & Sons a construção, em 1821, de um "square piano" utilizando uma estrutura metálica com pinos também de metal onde as cordas eram presas.

Em 1811 o Concerto nº 5 em Eb, Op. 73, de Beethoven ("Imperador") é apresentado pela primeira vez em Viena, introduzindo a prática de se tocar as cadências escritas pelo compositor, sinalizando o começo do fim do improviso em concertos. Onze anos depois, em 1822, Schubert compõe Fantasia em C, Op. 15 ("Wanderer") antecipando o uso mais orquestral para a composição destinada ao piano, que seria posteriormente explorado por Brahms e Liszt.
Em 1825, Alpheus Babcock (Boston) apresentou seus pianos quadrados (square pianos) com chapa totalmente confeccionada em ferro fundido que permitiu uma tensão maior nas cordas, gerando um volume maior de som.

Neste mesmo ano de 1828 um outro fato marcante na história do piano: Ignaz Bösendorfer assumiu o controle gerencial da fábrica Brodman, lançando os alicerces da moderna empresa Bösendorfer.
Logo em seguida, em 1826, Pape, um dos responsáveis pelo aprimoramento do piano armário, também desenvolveu outras tecnologias, tais como o uso de feltro na cobertura dos martelos e o uso de cordas de aço temperado. Três anos depois, em 1828, instalou cordas cruzadas em pianos armário, aumentando ainda mais o tamanho delas.

Neste mesmo ano de 1828 outro fato marcante na história do piano: Ignaz Bösendorfer assumiu o controle gerencial da fábrica Brodman, lançando os alicerces da moderna empresa Bösendorfer. E não só a mecânica do instrumento evoluía. As técnicas de execução musical também eram enriquecidas pelos grandes compositores e instrumentistas da época. Franz Liszt, por exemplo, foi uma figura revolucionária dentro da música romântica e foi reconhecido como o melhor pianista de seu tempo. Completamente envolvido pela música, suas emoções assumiam o total controle de seus gestos. Juntando-se a isto a força de suas mãos, o resultado foi a destruição de vários pianos.

Entretanto, ele tinha preferência por alguns poucos instrumentos. Um deles, um Bösendorfer, foi seu companheiro em várias apresentações diante de figuras eminentes da sociedade da época. Em outra ocasião, exatamente em 1831, ouvindo o violinista Paganini tocar em Paris, Liszt inspirou-se e criou uma imagem heróica. Neste processo ele extrapolou os princípios técnicos para além das mãos, ou seja, para os braços, ombros e, até mesmo, para o tronco. Depois, em 1839, ele tocou no primeiro recital de piano solo em Roma, dispensando a usual performance entre orquestra, vocal e peças de câmara. Em 1840, foi a vez de Clara Schumann se destacar, popularizando a prática de tocar piano de memória.

E as mudanças mecânicas continuaram acontecendo. Em 1835, surgiu o primeiro exemplo de automação no processo de construção do piano quando uma fábrica alemã utilizou máquinas para enfeltrar os martelos. Em 1838, Pierre Erard inventou a barra harmônica que evitava que os martelos forçassem as cordas afastando-as do cavalete. Em 1840, Henri Herz simplificou o mecanismo criado por Erard, gerando um outro que ainda é usado nos dias de hoje.



    

Um novo tipo de piano surgiu em 1842. Seytre e Pape, na França, e Bain, na Escócia, produziram instrumentos automáticos usando um sistema de perfuração, mas nenhum deles atingiu reconhecimento comercial. Giovanni Racca foi o primeiro a produzir, com sucesso, o piano automático baseado neste princípio.







 Em 1863, o francês Fourneaux desenvolveu o "Pianista". Este foi o primeiro piano player pneumático. Era composto por uma caixa grande, mais ou menos do tamanho de um piano vertical, cujo mecanismo era impulsionado por rodas em seu plano superior, de forma que seus "dedos mecânicos” efetivamente tocavam as teclas.

Uma distinção deve ser feita entre o Piano Player e o Player Piano. O primeiro, do qual o "Pianista" é um exemplo, é um mecanismo vertical que toca um piano comum com "dedos” mecânicos. O outro é um piano com um mecanismo executor construído dentro de si.
 




A aparência do piano de rolo (inicialmente em 1870), um longo rolo de papel com perfurações, provocou mudanças fortes no cenário musical. Esta maneira compacta e eficiente de armazenar informações fez do piano automático uma proposição viável. Ele tornou-se muito popular nos anos 1890's. A maioria das músicas gravadas nestes rolos de papel não possuíam expressividade ou informação dinâmica. Entretanto, era possível ao operador acrescentar estes elementos controlando o tempo, o volume e a ação dos pedais. Em 1904, Edwin Welte of Freiberg (Alemanha) inventou um sistema de codificação que incluía no rolo de papel as nuances de uma execução musical.

A especialização entra na indústria do piano em 1842, quando J.C.L.Isermann (Hamburgo) abre sua oficina independente para somente fabricar mecanismos de piano. Do outro lado do mundo, nos EUA, Jonas Chickering, especialista em "square" pianos, decidiu, em 1830, construir seu primeiro piano vertical. Ele pesquisou o trabalho de Babcock quanto ao uso de uma estrutura metálica para aplicar em seus "square" pianos e, em 1840, patenteou uma versão mais aprimorada dela. Também constatou que este tipo de armação poderia igualmente ser utilizada em pianos de cauda. Ele, então, construiu seu primeiro instrumento deste tipo, ao qual incorporou chapa feita de uma única peça
 
E a indústria de pianos continou a crescer de forma bastante acelerada. Em 1844, a empresa fundada por Jean-Henri Pape construiu um piano de 8 oitavas já prevendo o teclado expandido similar ao que se usa hoje em dia no Bõsendorfer Imperial. Em 1853, três gigantes do mundo dos pianos abrem suas empresas: o imigrante alemão Heinrich Steinweg funda a Steinway & Sons, em Nova Iorque; Julius Blüthner abre a oficina em Leipzig; Carl Bechstein começa a fabricar pianos em Berlim.
 
Todas as mudanças realizadas no mecanismo dos pianos culminaram em um aumento do tensionamento das cordas e, em conseqüência disto, os martelos cresceram e as máquinas tornaram-se mais robustas. Diante disto, Henry Steinway Jr. lançou, em 1859, o sistema de cordas cruzadas sobre a chapa de uma só peça que havia sido implantada nos pianos de cauda.
Em 1860, a Steinway & Sons produziu o primeiro piano de cauda com cordas cruzadas. O instrumento foi muito bem aceito pelo mercado.
Pela contribuição dada à evolução do piano, Steinway e Chickering ganharam, em 1867, o primeiro e segundo prêmios, respectivamente, na Exposição de Paris. Cinco anos após a premiação, em 1872, Steinway volta a inovar entrando na era do marketing cultural patrocinando concertos de Anton Rubinstein por toda a América.
 
A segunda metade do século XIX testemunhou enormes mudanças no mecanismo do piano. O piano de cauda, um delicado instrumento em fins do século XVIII, transformou-se na “robusta e poderosa” máquina de hoje. O piano vertical sofreu também alterações, sendo que os principais refinamentos ocorreram mais no processo de fabricação do que no designo
 
Em 1874, Steinway aperfeiçoou o pedal de sostenuto para "square pianos"; as patentes de pedal de sostenuto em pianos de cauda e armário foram obtidas um ano depois. Ainda em 1874, Julius Blüthner patenteou as cordas Aliquot que aumentaram a ressonância do piano usando uma quarta corda não atingida pelo martelo acima das três cordas de cada nota nas 4 oitavas mais agudas.
 
Em 1880, Needham and Sons (Nova Iorque) lançou o primeiro piano automático construído por R. W.Paine através de uma adaptação do mecanismo do orguinette. Ainda neste ano, duas novas empresas surgem no mercado: a Steinway de Hamburgo e a Mechanical Orguinette Co. (mais tarde Aeolian Co.) que produzia harmônios automáticos.

Em 1882 foi a vez de Paul von Janko patentear seu teclado de piano redesenhado (foto), baseado em duas fileiras de tons adjacentes a escalas de tons inteiros. Cinco anos depois, em 1887, Edwin Welte (Alemanha) introduziu o uso do rolo de papel perfurado.
 
E o Japão entrou, finalmente, rio mercado de pianos quando, em 1885, a Nishikawa & Sons (Tóquio) fabricou seu primeiro piano. Logo depois, em 1899, Torakusu Yamaha construiu seu primeiro instrumento, consolidando a indústria japonesa do piano.
 
Neste final de século, o mundo artístico musical voltou a destacar-se através das figuras de Paderewski que se tornou mania em Nova Iorque em 1891 e na de Brahms que fez uma das primeiras gravações de piano imprimindo uma de suas Danças Húngaras num cilindro.
 
Em 1897, Edwin Votey desenvolveu a pianola para a empresa Aeolian. O instrumento consistia em um tocador pneumático confeccionado pela mesma firma. Com o passar dos anos a pianola desenvolveu-se consideravelmente, tendo alguns de seus modelos incorporados aos pianos.
 
O estabelecimento do piano como um veículo para a expressão musical afro-americana foi obra de Scott Joplin quando, em 1899, ele publicou a obra "Maple Leaf Rag". Já o "approach" impressionista do instrumento foi antecipado por Ravel em 1901 através da obra "Jeux d' eau" e foi posteriormente desenvolvido por Debussy.
 
O início do século XX assistiu ao fim da era dos "square pianos". Para estimular a venda de novos modelos, a Society of American Piano Manufacturers queimou, no ano de 1903, durante uma cerimônia, uma pilha com mais de 15 metros desses pianos em Atlantic City. Os anos 1900 trouxeram também um ritmo frenético ao universo musical. Eventos importantes abriram caminho para que o piano passasse do clássico para o popular mantendo entretanto, o clima de aristocracia a ele inerente:
 
Em 1908, Schonberg compôs "Três peças para piano" juntando antigos princípios de composição com novos conceitos, como as vibrações de corda por simpatia;

Em 1923, as apresentações de Jerry Roll Morton, no Gennett Studios, contribuíram para o estabelecimento do piano como parte integrante da base da banda ("cozinha");
 
Em 1927, o trabalho de Earl Hines com Louis Armstrong reafirmou o papel do piano em jazz, como sendo um instrumento de solo;
 
Em 1938, as "ferasflo "boogie-woogie" Albert Ammons, Meade Lux Lewis e Pete Johnson se juntam no concerto Spiritual to Swing, no Camegie Hall; 'em 1943, John Cage compôs "Amores" fazendo uso de um piano preparado; 'em 1952 aconteceu a "premiere" da peça de John Cage que foi um marco na época: 4 minutos e 33 segundos de silêncio;
 
Em 1955, a gravação de Glen Gould de "O cravo bem temperado" redefiniu a prática pianística da música barroca e sugeriu muitas possibilidades para a edição de fita na performance de piano. Notou-se um interesse crescente por este tipo de música que culminou, 20 anos mais tarde, na reconstrução de pianos autênticos da era Mozart;
 
Em 1958, Van Clibum ganhou o primeiro concurso Tchaikovsky, iniciando a era de espetaculares concursos de piano
também em 1958, Jerry Lee Lewis projetou o piano como instrumento de rock com as músicas "Whole Lotta Shakin' Goin' On" e "Great Balls of Fire";
   
Em 1975 o Kõln Concert, de Keith Jarret, reviveu o "solo jazz piano" apontou para uma forma mais livre e meditativa de expressão posteriormente explora a por pianistas "new age".
Entretanto, apesar da polivalência do piano, houve quem acreditasse no seu desaparecimento do cenário musical. Em 1925, Walter J.Tumer previu, no New Statesman, em Londres, o fim do piano dizendo que, em tomo de 1975; o instrumento seria usado em concertos como uma peça antiga. Felizmente ele estava errado.
 
A chegada do rádio, no início do século XX, provocou um sério dano para o mercado de pianos devido ao seu efeito no setor de entretenimento doméstico. Antes do rádio, as famílias dependiam do piano para sua diversão. As novas invenções, rádio e gramofone, passaram a dividir com o piano as preferências domésticas. Entretanto, 'os novos sons surgidos representaram uma reviravolta na indústria pianística revigorando-a na luta pelo mercado de entretenimento doméstico.
 
No mundo empresarial as mudanças aconteceram em ritmo acelerado, trazendo boas e más notícias. Em 1930, Koichi Kawai, um empregado da Yamaha, saiu da empresa para fundar sua própria indústria de pianos.
 
Os horrores da Segunda Guerra Mundial deixaram intacta, somente, a fábrica da Steinway, dizimando todas as outras grandes indústrias alemãs de piano. Este fato contribuiu fortemente para o crescimento ainda maior da Steinway.
 
Em 1954, a Wurlitzer Co. lança seu piano elétrico e onze anos depois, em 1965, foi a vez de J:Iarold Rhodes lançar o seu modelo elétrico.
   Em 1966, a indústria Bösendorfer é adquirida pela Kimball International e teve, em 1978, sua produção elevada para 500 instrumentos/mês. Apesar disso, logo depois, a Bõsendorfer iniciou seu processo de decadência. o Japão, por sua vez, tornou-se, na década de 70, segundo dados da ONU, o maior produtor mundial de pianos.
 
Já em 1973, o Congresso Americano proibiu a importação de marfim introduzindo, com isto, o plástico no processo de capeamento das teclas do piano
Em 1986, a indústria Bechstein, que havia sido comprada em 1963 pela americana Baldwin, voltou para as mãos alemãs através do técnico Karl Schulze que, juntamente com dois sócios, recomprou-a da Baldwin, reestruturou seu setor de produção, fechou 3 fábricas do grupo e implantou nova tecnologia na unidade de Berlim, em 1989.
 
A história do piano sempre esteve repleta de confusões envolvendo sua terminologia e quando chegamos à era dos pianos elétricos e eletrônicos isto não poderia ser diferente. O termo "piano elétrico" é freqüentemente usado para descrever qualquer instrumento de teclado que use eletricidade e produza um som parecido com o de piano. Entretanto, a distinção deveria ser feita entre pianos "elétricos" simples, cujo som deriva de um elemento que vibra fisicamente, e pianos "eletrônicos", onde o som é gerado por circuito sem a utilização de partes em movimento.
 
A música popular e os instrumentos refletem invariavelmente a tecnologia dos dias de hoje. A indústria de instrumentos musicais tem rapidamente incorporado novas idéias e avanços tecnológicos.  
A eletrônica e a digitalização, incorporadas à música, têm gerado um importante desenvolvimento no mundo do design instrumental. O moderno piano eletrônico trabalha inteiramente dentro do campo digital, um mundo no qual o som é processado exatamente como qualquer outro tipo de dado numérico.

 
No universo artístico musical, hoje, mais do que nunca, existe uma enorme polivalência do piano, que vai da execução de peças clássicas até a do mais puro rock, sem perder sua majestade.
 
No cenário nacional podemos viajar através do tempo ouvindo a obra do compositor e pianista curitibano Brazílio Itiberê, reconhecido como o fundador da música brasileira erudita de cunho nacionalista, autor de "A Sertaneja - Fantasia Característica", peça composta em 1869, aos seus 23 anos de idade, "num lance de admirável intuição, que situa o autor como um artista de sua época, antenado com as mudanças que estavam se anunciando no panorama mundial de música erudita, e com as quais sua sensibilidade se afinou" trecho de autoria de Maria Augusta Machado). "Observou a dinâmica da civilização e seu tempo, como brasileiro e como cidadão do mundo. Nasceu num Império modorrento, lutou pelo abolicionismo, viu a República e esteve presente no centro das decisões do planeta, às vésperas da Grande Guerra, que mudaria irreversivelmente a face da Terra, os valores e as relações entre os países e as pessoas. Foi amigo de grandes personalidades brasileiras e estrangeiras, atravessando, em seus quase 70 anos de vida, um dos mais fecundos períodos da História da Humanidade.

Sua música é testemunha não só de uma época, de um tempo distante, mas sobretudo, de uma forma de viver, onde a individualidade e as idéias se sobrepunham a interesses menos espirituais, sendo as discussões estéticas e filosóficas o cerne do intelecto e da sensibilidade. (Arthur Moreira Lima). Aqui temos sua obra interpretada pela pianista brasileira de renome internacional, Henriqueta Penido Monteiro Garcez Duarte, em seu CD duplo "Henriqueta Duarte - Piano - Recital" (realização da Ársis Um Promoções Artísticas, distribuído pela Sol Maior), de cuja gravação participei preparando o piano nela utilizado.

E chegamos aos dias atuais com Antônio Carlos Jobim, um dos criadores da bossa nova, que tinha o piano como seu inseparável companheiro de criação. Entretanto, a riqueza de ritmos existente no Brasil leva o piano a mostrar toda a sua versatilidade indo do clássico, passando pela MPB e chegando ao póp, como na canção "O exército de um homem só", de autoria de Humberto Gessinger e Augusto Licks e executada pelo grupo Engenheiros do Hawaii (CD "Filmes de guerra, canções de amor", selo RCA/BMG Ariola, agente Showbras, de cuja gravação participei sendo o responsável pela afinação/regulagem do piano utilizado pela banda).
 
Sem esquecermos, é claro, nossos grandes instrumentistas como, por exemplo, Arthur Moreira Lima que vem realizando um belíssimo trabalho de popularização do piano, levando, tanto a música popular brasileira quanto os grandes clássicos internacionais aos mais distantes e inesperados lugares: favelas, escolas e comunidades carentes, praças públicas, presídios, etc. e ainda mais recentemente percorrendo desde 2003 quase todo o país com seu inédito projeto No cenário internacional esta diversidade de usos também se manifesta de maneira bastante clara: do clássico Evgeny Kissin, prodígio russo de 24 anos que, desde os 12, dá recitais apresentando soberbas interpretações de Chopin, até o excêntrico Elton John, passando por Stevie Wonder e Ray Charles que têm, definitivamente, suas imagens ligadas ao piano.
 
Todo o processo evolutivo narrado acima e a realidade com a qual nos defrontamos hoje nos mostra claramente que o piano é um organismo vivo. Sua história ainda está em curso. Sua participação em nosso dia-a-dia é um fato. Seja como objeto de lazer, de trabalho ou, simplesmente, como uma peça decorativa é raro encontrarmos alguém que já não tenha vivido algum tipo de relação com um piano. Um instrumento que, apesar de sua sofisticação, se enquadra em todas as realidades de vida atuais.