segunda-feira, 9 de março de 2015

Yamaha 40 anos de Sitetizadores - Capítulo 4



O sintetizador workstation EX5 foi lançado em 1998. Sucessor do SY99, este modelo de ponta é um verdadeiro exemplo dos sintetizadores dos anos 90 e foi direcionado a músicos profissionais. O sintetizador S80 foi lançado em 1999, apresentando um piano com teclado de 88 teclas que claramente o diferenciava de outros sintetizadores da Yamaha da época. Esta característica, importante para os teclistas, foi muito bem recebida e viria a influenciar o design dos sintetizadores MOTIF que se lhe seguiram.

Capítulo 4: Mudança de Necessidades e Regresso às Raízes

Criação de som intuitivo

Manual de usuário para os modelos CS1x e SY77.
Só por contemplar a capa se percebe a diferença.
Na primeira metade dos anos 90, a Yamaha apresentou uma nova gama de modelos de sintetizadores, equilibrando a sua rica experiência técnica adquirida no âmbito do desenvolvimento dos sintetizadores do tipo workstation e o novo sistema de geração de sons VA. Em contraste à situação vivida nos anos 80, o negócio de sintetizadores da Yamaha passava agora por dificuldades e nunca mais foi possível igualar o sucesso conhecido por modelos como, por exemplo, o DX7. Isto deveu-se, em parte, às mudanças conhecidas pelo mercado de sintetizadores. No passado, os utilizadores sentiam-se mais atraídos pelos modelos com tecnologias inovadoras e os produtos recentes praticamente voavam das prateleiras das lojas. Pelos anos 90, contudo, avanços contínuos ao nível de semicondutores, programação e outras áreas afins levaram a que os utilizadores regulares já não se sentissem entusiasmados simplesmente pelo lado mais tecnológico. Em resultado, os fabricantes focaram a sua atenção noutros aspetos como o design, interfaces de utilização, conceitos de produto e marketing. Este período também se caracteriza por alterações significativas a nível do panorama musical e nas aplicações geralmente dadas aos sintetizadores. No geral, a indústria atravessou uma fase caótica durante esta década.
Emergiu, então, uma nova tendência na indústria dos sintetizadores: o regresso ao sintetizador analógico. Isto não queria dizer que os sintetizadores analógicos dos anos 70 voltassem simplesmente a ser colocados nas prateleiras das lojas. Em vez disso, os produtos que apresentavam sons e utilizavam as técnicas de criação de som semelhantes às do sintetizador analógico – conhecidos como "sintetizadores analógicos virtuais" – começaram a ganhar uma popularidade crescente. Por outras palavras, os utilizadores procuravam instrumentos que pudessem simular os sintetizadores analógicos clássicos mas com recurso às mais recentes tecnologias digitais.
Um número de fatores contribuiu para esta popularização do sintetizador analógico virtual, mas um dos mais significativos consistiu na incapacidade de criar sons de forma intuitiva recorrendo aos sintetizadores digitais da altura. Instrumentos como o DX7 tinham tão poucos interruptores, botões e controladores quanto possível, deixando ao músico a pesquisa através de variados menus para obter as alterações desejadas numa miríade complexa de parâmetros de som. Foi desenvolvido software para edição que permitia trabalhar os sons recorrendo a um interface gráfico, mas esta abordagem estava longe do ideal para um desempenho ao vivo, onde o tom, timbre e outras características do som precisavam de ser controladas na hora. Assim que os filtros digitais desenvolvidos nos anos 90 se tornaram globalmente aceites, os engenheiros de som começaram a regressar aos seus parâmetros de cutoff e ressonância familiares, responsáveis pela criação do som único e próprio do sintetizador analógico. E ao contemplar também o ataque, decaimento e sustentação e parâmetros de controlo do oscilador, mais ênfase ainda se coloca na capacidade de manipular diretamente os parâmetros da mesma forma que se fazia nos sintetizadores da década de 70. A par disto, no mundo da dance music os DJs começaram a entusiasmar audiências ao tocar em tempo real, recorrendo a filtros integrados nas mesas de misturas, desenhados para as suas necessidades específicas, o que intensificou ainda mais a procura de sons poderosos, com base em filtros, com o cutoff e ressonância na sua raiz.
Em resposta a esta procura do mercado, a Yamaha lançou o Sintetizador e Controlador CS1x, em 1996. Um instrumento compacto e leve, numa refrescante cor azul, que apresentava um controlador em forma de rotário para uma rápida seleção dos parâmetros editáveis, assim como oferecia toda uma série de outras funcionalidades inovadoras e nunca antes vistas em sintetizadores da Yamaha. Muitas destas encontravam-se perfeitamente adequadas às necessidades de controlo de som da época: um exemplo perfeito seriam os botões controladores de som para uma rápida utilização de parâmetros chave como o cutoff e a ressonância. Mais ainda, este instrumento foi um dos primeiros com arpeggiator integrado, permitindo ao utilizador criar frases musicais complexas simplesmente pela pressão de uma tecla do teclado. Antes disto, o sintetizador era entendido como um instrumento de teclista, algo que só poderia ser tocado por pianistas talentosos. Este arpeggiator, contudo, tornou possível a quase qualquer pessoa tocar um sintetizador. O CS1x também se distinguiu pela forma como era possível conciliar o uso do arpeggiator e botões controladores de som para obter desempenhos criativos e inspirados que não precisavam de conhecimentos de teclista avançados.
CS1x

Um verdadeiro sintetizador analógico virtual


O CS1x e outros sintetizadores similares foram um sucesso junto dos clientes ao tornar a criação de som um processo simples de entender e por fornecerem a capacidade de controlar em tempo real os parâmetros de som mais importantes. Entretanto, o som do sintetizador analógico tornou-se cada vez mais importante para a música techno e para outras formas de dance music e música eletrónica. Em resultado destes fatores, cresceu a procura por sintetizadores digitais que pudessem reproduzir os sons dos analógicos. Outros fabricantes de instrumentos também lançaram vários modelos de sintetizadores modulares analógicos e começaram, também, a aparecer sintetizadores com base em software que empregavam a abordagem de modelagem analógica.
Em 1997, um ano após o lançamento do CS1x, a Yamaha introduziu o AN1x, um modelo digital otimizado para utilização enquanto sintetizador analógico. Isto foi possível graças à modelação física analógica, uma tecnologia inovadora que simulava até as características mais subtis mas únicas das ondas de som produzidas pelos osciladores dos sintetizadores analógicos, e a forma como ligeiras instabilidades nos seus sistemas elétricos afetavam o som. Apesar do seu design digital, este verdadeiro sintetizador analógico virtual fazia valer o seu lugar de instrumento, face a outros numa banda, e foi por isso mesmo muito bem recebido. Entretanto, de forma a tornar o CS1x mais adequado a desempenhos ao vivo, aumentou-se o número de controladores de som para oito, face aos seis do CS1x, e juntou-se-lhe um controlador deslizante, na vertical ou horizontal, vulgarmente chamado de fader.
As peças sintetizadas que obtiveram enorme sucesso a meio da década de 90 tinham todas em comum bancos de sons graças à adoção em larga escala do GM*1, XG e outras tecnologias semelhantes. Isto significava que conseguiam reproduzir os sons de instrumentos acústicos, tal como bateria ou piano, e a maioria podia ser utilizada para produzir arranjos completos sem necessidade de recorrer a outros dispositivos. Em contraste, os investigadores da Yamaha arriscaram intencionalmente omitir o suporte a esta funcionalidade com o modelo CS1x, de forma a poder aperfeiçoá-lo enquanto simples sintetizador para performance.
  • *1: O standard General MIDI (GM) foi desenvolvido de forma a assegurar a compatibilidade entre os sons produzidos por diferentes sintetizadores. Os instrumentos compatíveis com este standard têm um conjunto predefinido de 128 sons específicos, tais como piano e guitarra, para além de todas as vozes para um set de bateria completo. Como tal, qualquer gerador de sons GM pode reproduzir dados de músicas em formato MIDI gerados a partir dum sintetizador de outro fabricantes e mesmo assim conseguir os mesmos resultados de som.

Catálogo do CS1x (edição em língua Inglesa).

Melhorar o desenvolvimento de produtos com base em pesquisa de mercado


ANX1
Graças à crescente popularidade da Internet no final dos anos 90, os utilizadores de sintetizadores podiam aceder instantaneamente a informação de todo o mundo e isso contribuiu para diversificar as aplicações na utilização de sintetizadores. Na nossa indústria, tornou-se extremamente importante assegurar as necessidades e compreender melhor os comportamentos dos utilizadores de sintetizadores através da pesquisa de mercado e moldar em função dessa informação o desenvolvimento de produtos. Enquanto que isto incluía certamente melhorias aos sistemas de geradores de sons, teclados e outro hardware, uma atenção especial começou também a ser dedicada ao design estético e cor dos sintetizadores, como eram usados após a sua aquisição, e muitos outros fatores. Entretanto verificou-se uma necessidade cada vez maior de simplificar a compreensão das características e funcionalidades dos sintetizadores para os seus utilizadores, especialmente para os principiantes. Nesta perspetiva, as mudanças que a indústria dos sintetizadores na época atravessava são bastante significativas, considerando os seus manuais de utilização. Basta olhar para as capas para se verificar a evolução conhecida nos manuais de utilização, muito mais modernos e contemporâneos do que eram na época da série SY.
No começo da última metade dos anos 90, começámos a reportar às equipas de desenvolvimento de produto os resultados da pesquisa de mercado anteriormente realizada. Introduzido em 1998, o sintetizador workstation de ponta EX5 reunia todos os esforços da Yamaha desenvolvidos nessa década.
A seguir ao lançamento da série SY, a Yamaha reorganizou a sua linha de sintetizadores – à exceção dos modelos VL1 e VP1 – para se focar em modelos de gama baixa, apostando na relação qualidade-preço, de forma a apelar a um novo público-alvo de consumidores. Ou seja, não foi apresentado nenhum sintetizador focado numa audiência profissional que merecesse o título de sucessor do SY99 durante esse período, realidade alterada com a chegada do EX5.
O motor de som deste sintetizador apresentava: um gerador de sons AWM2, o primeiro da Yamaha a oferecer polifonia de 128 notas; um gerador de sons de modelação física VA, tal como aquele que foi desenvolvido para o VL1; o popular gerador de sons analógico virtual AN do modelo AN1x; um gerador de sons com Formulated Digital Sound Processing (FDSP), recentemente desenvolvido para permitir um controlo DSP do pitch e de outros itens individuais dos dados de notas; e um sistema de sampling integrado e flexível. Este poderoso sintetizador incorporava praticamente todas as tecnologias aperfeiçoadas até à data, com destaque para os controladores, que foram significativamente melhorados como, por exemplo, com a introdução do painel de 3 rodas combinando a roda de pitch bend com duas rodas para controlar modulação, assim como pelo fader. Contudo, todas estas melhorias introduzidas no EX5 iam muito para além da teoria e o som do instrumento refletia verdadeiramente os resultados da pesquisa efetuada. Conseguia ainda produzir os sons de baixos que tinham sido alvo de grandes elogios com o AN1x, permitindo ao EX5 oferecer sons únicos e com uma riqueza nunca antes alcançada.

Desenvolvimento em simultâneo de novos sistemas de geradores de sons

Após a introdução dos geradores de sons de modelação física, com os modelos VL1 e VP1, a Yamaha trabalhou também em paralelo no desenvolvimento de outros tipos de geradores, tal como o gerador de sons analógico virtual AN para o modelo AN1x e no gerador de sons FDSP encontrado no modelo EX5. Um dos resultados mais notórios deste esforço de desenvolvimento foi o gerador de sons revolucionário: Formant Synthesis (FS). Os motores FDSP e FS representaram ambos avanços consideráveis no âmbito das tecnologias conhecidas de geradores de sons, mas em especial o gerador de sons FS com base em tecnologia FM foi alvo de grande apreço, devido à abordagem inovadora na produção de som combinando fontes, ou seja, segmentos característicos da voz humana. A sua implementação no FS1R foi impulsionada por geradores de sons FM com oito operadores, e graças a funcionalidades como a compatibilidade retrovertida com vozes do DX7, rapidamente ganhou a reputação de um fabuloso tesouro perdido.
O gerador de sons FS usa elementos fonéticos como parâmetros de vozes e, como seria de esperar, isto permite-lhe produzir sons semelhantes aos da fala humana. Na altura do seu lançamento, a Yamaha já comercializava uma placa plug-in, designada PLG100-SG, como módulo de expansão sonora para música de desktop (DTM). Esta placa causou um grande impacto no mercado Japonês da época, com a sua capacidade de reproduzir letras de músicas introduzidas em Japonês. Apesar de os produtos da atual série Vocaloid também reproduzirem letras, este sintetizador fazia muito mais na altura em que foi lançado, com um design totalmente diferente. Esta é mais uma evidência do espírito empreendedor dos engenheiros investigadores da Yamaha, nunca negligenciando a inovação técnica, mesmo quando confrontados com condições difíceis que requeriam dar prioridade aos interesses do mercado acima de tudo o resto.



CSX6

Os resultados da pesquisa de mercado

Slots de expansão CSX6
Em seguimento à série SY, a Yamaha lançou vários produtos que combinavam uma variedade de tecnologias num esforço de oferecer as funcionalidade ideais para as várias aplicações e necessidades dos seus utilizadores. Contudo, na ausência de um grande sucesso como o DX7, os anos 90 caracterizaram-se como um período difícil para o negócio dos sintetizadores. A luz ao fundo do túnel chegou, finalmente, na forma de dois modelos lançados em 1999: o CS6x e o S80.
Poderíamos assumir, com base no seu nome, que o CS6x vem da mesma família que o Sintetizador e Controlador CS1x, mas na verdade foi desenvolvido como um instrumento de palco. O aspeto diferenciador mais notório foi o esquema de cores. Ao contrário da norma até à data de corpos de sintetizadores geralmente em preto ou azul-escuro, o CS6x era prateado. Naturalmente que a Yamaha já tinha lançado produtos de cores mais vivas antes deste modelo, mas em prateado somente no caso de edições limitadas ou especiais, geralmente com um "S" adicionado ao nome do modelo. Esta foi a primeira vez que a empresa lançou um sintetizador exclusivamente em prateado.
Este sintetizador produzia sobretudo sons PCM recorrendo ao gerador de sons AWM2 integrado, mas também podia ser expandido recorrendo a duas placas plug-in de gerador de sons adicionais que ofereciam aos utilizadores acesso a VL, AN, FM e outros motores sonoros. De forma a apelar ao ambiente musical de discotecas, pedimos a engenheiros de som europeus de renome para desenvolver as vozes predefinidas. Como tal, o CS6x satisfazia na perfeição as necessidades de mercado, tanto em termos de hardware como de software. Graças aos sons ricos herdados do EX5, um sistema inovador de plug-in, a forma simples como permitia trabalhar o som e a coloração produzida permitiu-lhe destacar-se ao vivo, fazendo com que este sintetizador se tornasse muito popular, especialmente na Europa.
Enquanto que o CS6x foi desenvolvido tendo em vista o mercado Europeu, a Yamaha incorporou grande parte do feedback recebido da América do Norte no modelo S80. Por exemplo, a qualidade dos sons de piano essencial para um teclista sério foi significativamente melhorada e com 88 teclas o teclado deste sintetizador era tão comprido como o de um piano verdadeiro. Esta e outras funcionalidades inovadoras marcaram uma nova era para os sintetizadores da Yamaha.
Como mais uma forma de assegurar a satisfação das necessidades principais dos músicos, escolhemos o design AE*2 para o teclado, porque oferecia a mesma sensação que um piano verdadeiro e era especialmente adequado para tocar sons de órgão e sintetizador. No panorama musical da época, os sintetizadores eram mais usados para sons de piano no contexto de um grupo musical ou de uma sessão de jazz, apesar de os teclistas também recorrerem frequentemente a órgãos, cordas e outras vozes do género. Como tal, as características do S80 eram bastante apropriadas às necessidades do mercado e tornavam-no especialmente desejado junto de vários grupos de utilizadores, nomeadamente entre os músicos profissionais.
É um conceito globalmente reconhecido que todos os sintetizadores básicos (com exceção dos modelos portáteis) apresentam o seu pitch bend e botões circulares de modulação à esquerda do teclado. No S80, contudo, estes foram movidos para o painel de topo frontal, tornando possível reduzir o comprimento do instrumento para poder oferecer um teclado de 88 teclas – uma modificação que tomou em consideração o facto de muitos teclistas americanos na época transportarem os seus sintetizadores nas malas dos carros, o que tornava o comprimento um fator importante na seleção do instrumento. Não teríamos sido capazes de ir ao encontro desta necessidade se não tivéssemos empreendido a pesquisa de consumo junto do mercado Americano.
O CS6x e o S80 tiveram um grande impacto na forma como a Yamaha viria a desenvolver sintetizadores na década seguinte, no século XXI. Por exemplo, o design prateado do CS6x teve um grande impacto na seleção de cores para a futura série MOTIF, e o sucesso do S80 como uma alternativa viável a pianos verdadeiros influenciou a nossa decisão de configurar a linha de produtos de sintetizadores à imagem do piano, enquanto que o MOTIF6 e o MOTIF7 já apresentavam uma estética próxima dos sintetizadores precedentes. Apesar de ser inegável o esforço dedicado pela Yamaha aos sintetizadores durante a década de 90, as abordagens inovadoras adotadas para o CS6x e o S80 revelaram qual o caminho a seguir nos anos seguintes.
  • *2: O teclado do AE é altamente expressivo mas subtil, tornando-o ideal tanto para tocar piano como para produzir sons sintetizados ou dar concertos rock. Apesar de também suportar aftertouch, é perfeitamente indicado para ser usado como teclado principal.

  • Origem: http://pt.yamaha.com/pt

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